Por que sou a favor das cotas?
2. Não acredito em mestiçagem. Invenção muito bem orquestrada na definição da cultura brasileira (se há isto, né!). A concepção de mestiço foi uma boa maneira para criar a ideologia do convívio pacífico entre as raças. Coisa linda. Acabou estruturando a transformação das massas excluídas (frequentemente negras) em homens cordiais, homens docilizados. "Claro, senhorzinho, sou igualzinho a vc, q tem tb um pezinho na cozinha!". Se não fosse (e é) a mestiçagem, cabeças iriam rolar nesse país. A mestiçagem transforma as diferenças e as transforma em uno. No Brasil, como dizia Caetano, "preto é preto, branco é branco, e a mulata não é a tal." Então esse papo de dificuldade de estabelecer que é negro no país porque somos mestiço é uma farsa covarde. É a penúltima carta na manga para evitar que privilegiados continuem privilegiados. Tenho um filho branco dos olhos azuis (ah! adoro meu filho). Se ele não passa na Ufes, quando fizer o vestibular, como integrante da classe média, mando ele para o RJ, SP, até para o Japão.
3. As desigualdades sociais no país tem cor: é negra. Temn gente que não sabe o que é ser pobre, estatisticamente. É o sujeito que está numa família com renda per capita igual ou menor que R$ 175 reais. Em uma família com 4 integrantes e que tem uma renda de R$ 700,00 é considerada como pobre. O ES tem 40% de pobres (ou seja: 1,2 milhão abaixo da linha da pobreza). Olha que essa turma é soente parte dos alunos que estão nas escolas públicas. Se quiserem discutir uma pouco mais, é o seguinte: o IPEA publicou em 2001 um estudo sobre desigualdades e raça nesse país mestiço. Resultado: 40% da população do país é negra. Contudo, 60% dos pobres são negro. Os brancos representam 85% dos mais ricos. O Brasil branco é três vezes mais ricos do que o Brasil Negro. A média de anos de estudos dos brancos é de 9 anos. O do negro5. QWuse o dobro. 97,7% dos negros no país com 25 anos ou mais (ppopulação adulta) não ingressaram no ensino superior. Está tudo no estudo. Para piorar a situação a Universidade Federal tem uma composição etária nada coincidente: 70% dos alunos são brancos. Por que será? Seria os brancos mais inteligentes? "Não tivemos ensino de qualidade", dizem. "É só por isso", continuam a dizer. Mas por que tiveste ensino de qualidade? "Por que temos renda e não defendemos a escola pública. Não queremos nem saber da escola pública. Isso é problema do Estado. Já basta o imposto que eu pago". Mas por que tens renda maior? "Por que temos os melhores cargos e profissões", argumentam. Mas só por isto? "Não, sabemos ganahr dinheiro e sonegar tb". Ah!!!. "Além disto, graças a Deus, o país libertou os escravos, que tiveram filho, neto, bisneto, tataraneto que continuam e vão continuar os mesmos." E esse pessoal aceita tudo assim na boa? "Não, não.. foi uma luta para criar a cutlura da mestiçagem. E quando a coisa aperta criamos política de educação profissional para eles. Pobre (negro) trabalha desde cedo pra gente, vc sabe, meu senhor, a gente acorda tarde..." Ou mudamos agora ou não mudamos nunca.
4. Não há gênios na Universidade. Estudante de escola pública não faz cair o desempenho, muito menos, a qualidade acadêmico. A UERJ, onde há cotas há mais e cinco anos, mostrou em estudo (publicado na Folha) que os cotados tiveram desempenho maior em todas as áreas e cursos. Logo, o mito já foi quebrado. Ninguém lembra do que aprendeu no cursinho. O conhecimento solicitado pelo vestibular não prova nada. O problema da Universidade é ela mesma. O seu corporativismo. Não é o neoliberalismo. É o fato de ter uma relação professor-aluno medíocre: 1 professor-11 alunos (entre oputras coisas, tipo professor não dá aula). Isto é um absurdo. Absurdo, absurdo.
5. Pelo fim do vestibular. O problema é o vestibular. O ideal é acesso para todos. Este é o ponto que une cotas e não-cotados. É necessário se mobilizar em torno dessa pauta. Fazer como os jovens franceses. Universidade para todos, já! Isto porque hoje ela é de qualidade, mas não é pública! Ela não é de todos!