domingo, novembro 13

"O motim francês não é o novo maio de 68"

Em seu blog, Mehmet Koksal (jornalista belga de origem muçulmana que foi a Paris cobrir o motim para o seu blog) reproduziu um relato tenso entre jornalistas franceses e estrangeiros.

Após entrar nas periferias e conversar com os jovens - entrada facilitada pela sua origem imigrante - o blogueiro foi jantar no bairro chique francês com correspondentes estrangeiros. A conversa entre eles foi uma amostra do porquê a cobertura internacional está tão anti-imigrante e anti-islã. Sintetizando o que Koksal escreveu:

1. A imprensa optou por uma condenação do imigrante e do Islã como culpados. Isto porque a maioria dos jornalistas concorda que o islamismo prega a violência como prática social, logo, se a maioria dos amotinados são de origem islâmica, são violentos. Koksal responde o seguinte aos jornalistas: "Não é o Islã que tem um problema com a França, mas a França que tem um problema com o Islã. A República recusa tratar equitativamente os diferentes credos e provoca frequentemente os muçulmanos adoptando medidas de excepção".

2. O motim francês não é um novo maio de 68. É a mania da França em teorizar tudo e esquecer do problema real. Em 68, os jovens eram filhos da classe média, filhos da Era de Ouro do capitalismo. Hoje, os jovens são franceses filhos da política de imigração frances pós-Guerra. "Eles são filhos do Pokemon e do Playstation". Não adianta querer encontrar uma formulação teórica, política e social desse movimentos. Os jovens não formularam um discurso do que querem.

3. Um grupo de jornalistas perguntou ao
Koksal: é possível ocorrer motins nas periferias belgas? Ele respondeu que a periferia na Bélgica é ocupada por burgueses franceses e holandeses. "Imagina a pauta de reivindicação: queremos fazer uma piscina no jardim ou uma troisième 4x4...". A sala gargalhou.

4. Os jornalistas praticam a islãfobia. Muitos concordam cinicamente. Um jornalista italiano fala que o islã é um dos maiores desafios para os países europeus. Outros discordam. Pensam que não é o jornalismo que pratica a islãfobia, mas os governantes. Cita o caso de Villepin que, ao estourar os motins, convocou o líder religioso do Islã na França para pedir calma aos "rebelados". O jornalismo, portanto, só descreve o fato. E o fato é: o governo francês que pratica a islãfobia. "Nós só relatamos". Que cinismo!

5. Conclusão do jornalista belga na sua visita a PAris: os excluídos franceses vivem ao lado da França, "desde que a França os deixe de lado".

6. Conclusão II: os franceses não sabem falar da sua exclusão, porque só gostam de falar bem de si, do tipo: Vive la Republique"